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terça-feira, 2 de setembro de 2025

O assalto em Küblis e a esmola da reforma

O assalto em Küblis e a esmola da reforma:


Um homem suíço de quarenta e três anos assaltou uma mercearia em Küblis, levou dois mil francos e foi preso no dia seguinte. A notícia oficial dá a hora, a quantia, a detenção. Não diz o que pesa mais: a razão por detrás do gesto.

Dois mil francos suíços. É exactamente o que muitos recebem ao fim de quarenta anos de trabalho e descontos. A contabilidade da reforma calcula-se muitas vezes como cinquenta francos por ano de descontos. Quarenta anos de esforço, cinquenta francos por mês, perfazem dois mil francos de reforma. Um valor que não paga casa, nem pão, nem dignidade.

Qualquer indivíduo com fome rouba uma sandes e uma cerveja para sobreviver. Eu já vi isto acontecer. O empregado do quiosque ou do restaurante vem a correr atrás, em vez de pegar em cinco, dez ou quinze francos, colocar na caixa e dar dignidade àquele homem. Se o apanhar, entrega-o à polícia. É isto que está mal.

Enquanto isso, outros roubam sem que ninguém olhe, e não são punidos. O faminto é quem leva a culpa, o sistema fecha-se e a injustiça consuma-se. Não se trata de defender o assaltante — talvez ele tenha apenas ido procurar o mínimo para não morrer. Rouba-se quando não resta dignidade, quando o Estado te esmaga, quando quarenta anos de descontos se transformam em dois mil francos. O homem de Küblis não gritou palavras, mas o seu gesto foi um grito contra a miséria escondida atrás das montanhas e dos relógios.

A reforma não pode ser esmola, a vida não pode ser castigo.


Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial

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