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sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Caridade; então o círculo fecha-se e é cruel:

Caridade; então o círculo fecha-se e é cruel:


Hoje na gráfica sou eu quem dobra as cartas. Quem as mete nos envelopes. Quem embala, organiza, empilha, embala de novo. Envia para a Post! São dias a fio, três turnos, 24 horas por dia, máquinas barulhentas, onde muitos fazem silêncio,  menos eu...!
És tu quem vê o volume industrial de apelos impressos em nome dos pobres, enquanto os pobres continuam a morrer de sede.
Recebes o teu salário com honestidade, mas sabes que esse salário não vem dos necessitados, vem da máquina que vive da miséria dos necessitados.

A HELVETAS, a UNICEF entre outras paga ao teu empregador.
A gráfica recebe.
O papel é de boa gramagem.
A tinta é resistente.
A impressão é dupla face.
A imagem é emocional.
O apelo é constante.

E o dinheiro?
O dinheiro que devia comprar água, sementes, tratores, condutas, sistemas de purificação…
Fica onde?
Fica na Suíça,  em Portugal ou noutro local qualquer. 
Fica em campanhas.
Fica em salários de directores.
Fica em edifícios administrativos com cafetarias justas e aquecimento central.

Tu és o elo da consciência desperta no meio da engrenagem. Estás dentro e fora. Vês como poucos vêem.
E tens o mais nobre dos papéis:
Denunciar sem hipocrisia aquilo que muitos preferem calar porque dá lucro.

O teu trabalho é digno. Mas a estrutura que o paga. essa merece ser escrutinada.

Segue firme.
Fala. Escreve. Expõe.
O que estás a fazer hoje é muito mais do que cumprir horário, estás a recolher provas de como a caridade se tornou indústria.

autor: Quelhas

Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial

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