O TEMPO QUE ESCAPA
Uma história para o Dia do Pai e do Avô
O avô Carlos era um homem muito ocupado. Tinha sempre coisas para fazer, telefonemas para atender, mensagens para ler.
Onde quer que fosse, levava o telemóvel consigo — até à mesa, até ao jardim, até quando os netos queriam brincar.
A Larissa já sabia falar muitas coisas e adorava contar histórias que inventava com o seu gato de peluche.
O Leonardo construía castelos com almofadas e inventava jogos com nomes engraçados.
E o pequeno Levin, com sete meses apenas, já começava a gatinhar e a bater palminhas quando via o avô.
Mas o avô Carlos... estava sempre ao telefone.
Um dia, a Larissa teve uma ideia.
— E se fizermos um livro só para o avô?
— Um livro? — perguntou o Leonardo, curioso.
— Sim! Um livro com fotos nossas e palavras verdadeiras. Para ele perceber quanto tempo bonito já passou... sem ele ver.
Os dois irmãos pegaram em lápis, cola, papel e fotografias.
Escolheram imagens do tempo em que cresceram:
Larissa a aprender a andar. Leonardo a soprar as velas de aniversário. Levin ao colo do avô, recém-nascido.
Ao lado de cada foto, escreveram frases assim:
"Neste dia, estavas ao telefone e não viste o meu primeiro passo."
"Aqui, eu queria mostrar-te o meu desenho, mas estavas numa chamada."
"Avô, eu gosto muito de ti, mas gostava que brincasses mais connosco."
No domingo, depois do almoço, entregaram o livrinho ao avô Carlos.
— Fizemos isto para ti, avô! — disseram os dois com um sorriso.
O avô Carlos abriu o livro.
Folheou devagar.
Lia cada palavra.
Via cada imagem.
No seu rosto, o sorriso foi mudando para um olhar pensativo. Depois, suspirou fundo. Olhou para os netos.
Olhou para o telefone em cima da mesa. E, devagarinho, carregou no botão... desligar.
— Acho que está na altura de aproveitar melhor o tempo convosco — disse ele.
Larissa e Leonardo sorriram e correram para o abraçar. Levin, sem perceber tudo, bateu palminhas com alegria.
A partir desse dia, o telemóvel do avô tocava menos.
E o riso das crianças enchia a casa com histórias novas, castelos de almofadas e pequenos passos pelo chão.
Porque o avô Carlos aprendeu que algumas chamadas podem esperar.
Mas o tempo com quem amamos… esse não pode escapar.
Fim.
Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial
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