Uma vida de trabalho apagada pela doença, em Lugano:
Há histórias que atravessam a Suíça como rajadas de vento frio, lembrando nos que a justiça social nem sempre caminha ao lado de quem deu a vida inteira ao trabalho. Em Lugano chegou à nossa redacção o caso de uma mulher que dedicou quarenta anos ao labor honesto, repartidos entre Portugal e a Suíça, e que hoje se vê empurrada para uma pensão de invalidez indigna, apenas porque adoeceu nos últimos anos antes da reforma médica.
Os factos são simples, duros e impossíveis de maquilhar. Depois de décadas a trabalhar, foi atingida por uma doença prolongada e incapacitante que a afastou do emprego. Recebeu subsídios diários da seguradora, primeiro de uma companhia privada, depois da SUVA. Os pagamentos eram directos, sem salário do empregador, e foi exactamente aí que o destino mudou de forma cruel.
Para o sistema contributivo suíço, esses anos de doença desapareceram, não contam, não vivem nos registos, não fortalecem direitos, não protegem a invalidez. A regra administrativa é fria como pedra de montanha, afirmando que os subsídios diários não são sujeitos a contribuições AHV IV e, portanto, não podem ser considerados rendimento. O resultado é um corte brutal na pensão, como se três anos de doença pudessem apagar quarenta anos de trabalho.
O caso segue agora para o Tribunal da Segurança Social da Suíça, onde será decidido se esta exclusão automática, que atinge quem adoece no fim da vida laboral, é compatível com o espírito de protecção que o país tanto proclama. A mulher em causa não pede favores, pede apenas que a verdade da sua vida não seja descartada por uma regra que nunca foi feita para castigar o doente, mas que hoje o castiga sem piedade.
Lugano fica assim como palco de mais uma denúncia pública, onde se ergue a pergunta que atravessa o país inteiro, como um eco difícil de calar, quantas vidas de trabalho serão ainda anuladas pela doença, quantas carreiras inteiras serão reduzidas a migalhas por um detalhe burocrático que ignora a dignidade humana.
A Revista Repórter X continuará a acompanhar este processo, porque nenhuma vida dedicada ao trabalho merece ser varrida para o silêncio, e porque a justiça só floresce quando alguém tem coragem de dizer o que todos vêem, mas poucos ousam afirmar.
Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial

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