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terça-feira, 1 de julho de 2025

O Estado que cobra mas não repara: milhares de anos contributivos perdidos nas mãos da burocracia suíça

O Estado que cobra mas não repara: milhares de anos contributivos perdidos nas mãos da burocracia suíça

Por João Carlos Veloso Gonçalves – Revista Repórter X

Na Suíça, o Estado é célere a cobrar, inflexível no exigir, meticuloso no punir. Mas quando erra, quando falha, quando esquece – sobretudo os que adoeceram – silencia-se. Finge que não viu. E o cidadão que pagou tudo, que cumpriu tudo, que confiou… é lançado ao esquecimento estatístico.

Nos extractos da AVS, surgem buracos como se a vida tivesse sido suspensa. Três anos de doença? Não contam. Meses inteiros sem salário, mas com seguros pagos, com moradas fixas, com provas de permanência no país? Desaparecem sem explicação. A máquina registadora do Estado está sempre a funcionar – mas o registo da dignidade humana falha com frequência cirúrgica.

Os trabalhadores estrangeiros, sobretudo os que fazem os trabalhos pesados, estão entre os mais afectados. Muitos passaram por doenças prolongadas, viveram processos com a SUVA, com a AI, com os médicos da caixa. Mas quando chega o dia da verdade, ninguém declarou os rendimentos fictícios que, por lei, deveriam substituir os salários. A conta da AVS, essa bíblia do tempo útil, aparece mutilada. Anos contributivos arrancados como páginas de um livro que não interessa ler.

As instituições responsáveis – SUVA, AI, AC – lavam as mãos. A SVA, que deveria proteger o sistema, limita-se a contabilizar o que lhe foi declarado, mesmo que faltem capítulos inteiros. O resultado? Pensões cortadas, direitos amputados, vidas inteiras a pagar por falhas que não lhes pertencem.

Não são casos isolados. Há Marias, Antónios, Joãos e Fatimas nesta situação. Gente que não pediu favores, apenas justiça. Gente que trabalhou, adoeceu e foi descartada.

O Estado suíço é um mestre da cobrança, mas um aprendiz da reparação. Exige até ao último cêntimo, mas não responde quando falha. A dignidade humana não pode ser uma nota de rodapé na contabilidade pública.

A Revista Repórter X exige respostas. E exige acções. A recuperação dos anos em falta. A responsabilização de quem não declarou. A rectificação imediata dos extractos contributivos. Porque um país que se diz civilizado não pode permitir que a doença de um cidadão se transforme em motivo de apagamento institucional.

Hoje são centenas. Amanhã serão milhares. E o silêncio será tão cúmplice como o erro.


Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial