Pesquisar neste blogue

Übersetzung in Ihre Sprache

Número total de visualizações de páginas

domingo, 20 de julho de 2025

O VICTOR — ENTRE A TRADIÇÃO, O RECONHECIMENTO E O JOGO DAS DISTINÇÕES:

O VICTOR — ENTRE A TRADIÇÃO, O RECONHECIMENTO E O JOGO DAS DISTINÇÕES:


Chegou à Revista Repórter X a seguinte nota pública:

"É com enorme orgulho que vemos o nome da Póvoa de Lanhoso enaltecido pela distinção atribuída ao Senhor Victor Peixoto, do “Restaurante O Victor”, condecorado pelo Presidente da República com a Ordem do Mérito Comercial. Apresentamos os nossos mais sinceros parabéns e desejamos-lhe continuação de sucesso e muitas felicidades."

A distinção agora concedida ao senhor Victor Peixoto, fundador do afamado Restaurante O Victor, em São João de Rei, freguesia da Póvoa de Lanhoso, é vista por muitos como um justo reconhecimento de uma vida inteira dedicada à gastronomia tradicional. O restaurante tornou-se uma referência no Minho e em Portugal, sobretudo pela excelência do bacalhau assado na brasa, servido em postas generosas, acompanhado de batata a murro, grelos e azeite verdadeiro, à moda antiga.

Victor Peixoto, homem simples, filho da terra, começou por dar continuidade à tasca do pai, até transformar o espaço num templo da cozinha minhota. Hoje, com mais de oitenta anos, ainda se cruza entre as mesas, mantendo viva a tradição e a hospitalidade que conquistaram gerações.

Porém, como em tantas casas de renome, nem todos os louvores se ficam pela cozinha. O título de “rei do bacalhau” não surgiu do acaso, mas também da habilidade de se posicionar nos círculos certos — entre autarquias, rotas gastronómicas e interesses turísticos. Como nos confidenciou um cliente e o autor deste texto, desiludidos:

"Fui lá uma vez de propósito e achei o maior barrete que alguma vez apanhei, não percebo o fascínio."

Claro, aqui tens só a citação, limpa e directa:

«Eu, além de escritor e colaborador em jornais locais, era técnico de vendas e andava a visitar clientes em São João de Rei. Num dia, com fome, dirigi-me ao restaurante O Victor, barrou-me a porta e negou-me uma refeição para comer no carro. Fui recusado, mesmo conhecido e estando endinheirado. Não precisava de fama, apenas de ser tratado como humano. Essa recusa ficou-me marcada, porque um restaurante que os clientes gabam pela hospitalidade não pode fechar as portas a quem lhe bate, para saciar a fome e voltar ao trabalho.»

A verdade, nua e crua, é esta: qualquer restaurante que trabalhe com qualidade podia ser chamado rei de um prato ou de uma cozinha, desde que a promoção passasse pelo crivo da política local e do turismo institucional. Há mérito, sim — mas também há bastidores, onde os aplausos se compram e as distinções se oferecem, tantas vezes mais ao cartão de visita do que à essência da casa.

O Victor é um caso curioso, onde o reconhecimento e a fama caminharam lado a lado com o trabalho sério. Talvez porque, ao contrário de outros, nunca deixou cair a qualidade, apesar das campanhas e dos compadrios que rodeiam o mundo da restauração.

Hoje, entre as críticas de quem não se rendeu ao encanto e os aplausos de quem venera o bacalhau assado de Victor Peixoto, fica a certeza de que há homens e casas que souberam merecer o título — não apenas pela cozinha, mas pela perseverança em manter viva a alma do Minho.

autor: quelhas

Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial

Sem comentários: