AUTÁRQUICAS 25: MÁSCARA DOS FINGIDOS
por autor: Quelhas
Na minha terra não vejo um candidato forte, pelo menos quero a mudança para não ser mais do mesmo. "Chega!" Chega de mais do mesmo! E quando falo da minha terra, falo também de todas as terras de Portugal que em breve irão escolher os seus representantes nas autárquicas. Na Póvoa de Lanhoso, como em tantos concelhos, o dilema é o mesmo: continuar a repetir rostos e vícios já gastos, ou ter a coragem de abrir caminho a uma nova esperança.
Num tempo em que os discursos se tornaram ocos e os cargos públicos um trampolim para vaidades pessoais, eu como povoense assino este grito de alma contra a hipocrisia dos que fingem servir o povo. Uma denúncia clara, sem véus nem alianças, escrita com a coragem de quem não teme dizer a verdade. Publicamos este texto por respeito ao povo que trabalha, vota e é traído.
Os políticos vendem-se ao diabo. Cada cabeça sua sentença, é certo, mas neste mundo moderno parece que há uma só sentença: o proveito próprio. Vemos homens e mulheres que não se movem por ideais, mas por dividendos. Encostam-se onde cheira que há imposto, taxa, rendimento fácil. Tanto nas empresas como na política local, em tudo que os cerca, a bússola aponta sempre para o lucro pessoal, nunca para o bem comum.
A política tornou-se escada para ambições mesquinhas, não tribuna de serviço público. São pessoas interesseiras, cuja vocação é sugar do erário, fingindo servir. Apropriam-se de cargos pagos com o suor do povo, não para erguer a pátria ou a freguesia, mas para alimentar o próprio banquete. E quando largam o poder, depois de o exercerem sem honra, não merecem sequer a memória da autoridade que lhes foi conferida.
Perderam o sentido de missão. Já não há vergonha, nem nobreza. Apenas cálculo, tráfico de influências, alianças por conveniência. E o povo, desiludido, aprende a desconfiar de tudo e de todos. Mas a esperança não morre. O futuro há-de exigir contas. E há-de erguer-se uma geração que sirva, e não se sirva.
Há pessoas e pessoas que vieram da pobreza, dos tempos da censura e da repressão, dos dias da PIDE, onde até o pensamento era vigiado. Hoje vivemos em liberdade, e que liberdade! Uma liberdade moderna, ruidosa, cheia de opinião e rede social. Mas o que fizemos com ela? Usamo-la como bandeira, mas poucos a honram.
Muitos que outrora eram oprimidos, logo que se viram livres, trataram de oprimir. Da PIDE, passaram para o CDS, e dali saltaram para onde houvesse rendimento, visibilidade, um lugar ao sol. Quando não encontraram “taxa” de proveito, mudaram de trincheira. Uns para o PS, outros para o PSD, outros ainda para o Chega ou para o PCP, conforme o vento, conforme o palanque, conforme a ocasião.
São troca-tintas. Sem escrúpulos, sem raízes, sem convicções. Cambiam de cor como o camaleão muda de pele. Vão onde cheira a tacho, onde podem colher sem semear. E o fazem sempre à custa do povo, do contribuinte que paga, que trabalha, que aguenta. São profissionais da sobrevivência política, transformando o serviço público em palco de vaidades e armazém de interesses.
O mesmo se diga dos que nasceram no seio comunista e hoje vestem o fato do liberal, ou do social-democrata, ou do populista. Vice-versa, e vice-versa, e vice-versa. Já não são ideias que os movem, é a conveniência. E quando um povo é conduzido por quem não crê em nada senão em si próprio, esse povo está em perigo. Mas o tempo há-de separá-los. Porque a verdade, ainda que demore, acaba sempre por chegar.
Todos aqueles que não eram nada e que cresceram, porque tiveram a habilidade de crescer, e disso ninguém lhes pode tirar o mérito, cresceram à boleia de um sistema que lhes abriu portas. Foram-lhes dadas oportunidades. E toda a gente, sim, merece uma oportunidade. Mas o que se faz com ela é que define o carácter.
Houve os que, com essa chance, arregaçaram as mangas, suaram, construíram, deram algo de si ao país e à terra. Mas houve também os outros. Os que usaram essa porta como entrada para a ambição pessoal. Trabalharam, sim, mas apenas para o seu bolso esquerdo. E ainda por cima vestem-se de arrogância. Não falam com o povo. Não têm diálogo. São eleitos pelo voto dos humildes, mas mal alcançam o cargo, esquecem-se do cheiro da terra.
Não respondem a perguntas, não atendem e-mails, não devolvem chamadas. Passam nas ruas como se fossem feitos de outra matéria, nariz empinado, olhar distante. E no entanto, quando chega a hora da conveniência, dos comícios, das televisões, dos aplausos comprados, aí estão eles, aos beijos e aos abraços, a prometer mundos e fundos com um sorriso colado à cara. Falsos. Iguais ou idênticos ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, mestre do teatro cordial, da palavra leve, da presença vazia.
Diante disto, só me ocorre uma frase antiga, crua, mas honesta: "vai tomar no culo", porque, ao acreditar em tantos deles, fui ingénuo. Mas não mais. Que venha o tempo da clareza, que caia a máscara dos fingidos, e que o povo acorde da ilusão. Porque já "Chega" de sermos servos de quem só se quer servir.
Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial
Sem comentários:
Enviar um comentário