A VIDA NA SUÍÇA
A vida na Suíça é, à primeira vista, um relógio sem falhas. Tudo funciona, tudo parece limpo, tudo parece certo. Mas por detrás da pontualidade dos comboios, da calma dos lagos e da pureza do ar, há um mundo feito de regras rígidas, silêncios densos e uma exigência quase cruel de perfeição.
Aqui, não há margem para o erro. Tudo é medido, pesado, contabilizado. A vida suíça recompensa quem não falha, mas pune com frieza quem tropeça. E quando se cai, raramente há mãos estendidas. Há antes protocolos, formulários e silêncio.
O SISTEMA SOCIAL
Na Suíça, o Estado é mínimo. A assistência social existe, mas não é confiável nem humana. O seguro de saúde é obrigatório, mas privado, e quem não consegue pagá-lo torna-se, lentamente, um marginal do sistema. Não há consultas gratuitas, nem urgências acessíveis sem seguro válido. Quem precisa de ajuda deve primeiro provar que merece. E, muitas vezes, nem isso basta.
A lógica é simples: és responsável pela tua vida até ao fim.
Foste despedido?
Problema teu.
Estás doente há meses?
Deves arranjar forma de te curar sem pesar ao Estado. Ficaste com sequelas de um acidente?
As seguradoras discutirão durante anos quem te deve o quê. E durante esse tempo, sobrevives. Se puderes.
O TRABALHO
O trabalho na Suíça é o altar moderno. Tudo gira em torno da produtividade. As pausas são cronometradas, os erros não são esquecidos, e o currículo é analisado como se fosse um processo judicial. Um dia de baixa médica sem justificação suficiente pode custar o emprego.
Os salários são, sim, altos, mas os custos acompanham. Renda, alimentação, transportes, saúde: tudo exige cálculo, contenção e estabilidade. Muitos trabalham a vida inteira sem jamais conseguir comprar casa.
A VIDA PRIVADA
Na Suíça, não se invade o outro. Isso parece respeito, mas é também distância. Os vizinhos vivem paredes-meias sem nunca trocarem uma palavra. Falar alto na rua é visto como grosseria. Convidar alguém para casa é gesto raro.
Para os estrangeiros, isto pode parecer frieza. E é. A integração na Suíça não se faz com festa, faz-se com silêncio e anos de prova. Aprender a língua, conhecer os costumes, respeitar as regras. E mesmo assim, serás sempre “de fora”.
A ORDEM
Há ordem, sim. Mas é uma ordem vigiada. Lavandarias com horários escritos, caixotes do lixo que não admitem erro, silêncio obrigatório a partir das 22 horas. Há avisos, há multas, há denúncias anónimas. O controlo é feito pelos próprios vizinhos, que anotam e reportam.
A liberdade existe, mas tem um molde. Quem vive fora desse molde sente-o todos os dias, nas pequenas tensões, nos olhares julgadores, nas cartas de advertência deixadas na caixa do correio.
A BELEZA
E, no entanto, há beleza. Há montanhas que cortam o fôlego, aldeias onde tudo parece um presépio, ruas sem lixo, comboios que cruzam vales como se voassem. Há segurança, paz e ordem. Ninguém te rouba o telemóvel no eléctrico. As crianças vão sozinhas para a escola.
A paisagem é um consolo. A natureza é sagrada. E o tempo parece andar mais devagar, para quem pode pagar por esse sossego.
CONCLUSÃO
Viver na Suíça é como viver numa caixa de vidro. Vês tudo com nitidez, ouves pouco, tocas com cuidado. Tens espaço para respirar, desde que não respires fora do ritmo.
É uma terra onde se vive bem, mas apenas se se encaixar no molde, se se suportar o frio humano e se tiver meios para pagar todos os bilhetes deste comboio de luxo.
Quem chega à Suíça com esperança, que venha também com paciência, coragem e um plano. Porque aqui, até a dignidade é um contrato.
Queres me falar de; “qualidade de vida suíça”, diz-me o rumo, e sigo contigo.
autor: Quelhas.
Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial
Sem comentários:
Enviar um comentário