O MÉDICO DE FAMÍLIA NA SUÍÇA — QUANDO A OBRIGAÇÃO SE TORNA UM FARDO
Na Suíça, todos os residentes são obrigados a ter um seguro de saúde. E, com ele, a estarem vinculados a um médico de família, seja a título permanente ou provisório. Esta regra, imposta pelas Krankenkassen, parece à primeira vista uma medida sensata, destinada a garantir o acompanhamento contínuo e próximo de cada cidadão.
No entanto, a realidade mostra-nos outra face deste sistema.
Quando um médico de família falha com o seu doente, seja pela perda de confiança, seja por atitudes negligentes ou mesmo por práticas de conivência com um sistema que nega baixas médicas a quem delas precisa — o paciente fica encurralado. Perde-se a confiança, rompe-se o vínculo e... começa o calvário de procurar um novo médico.
A liberdade de escolha torna-se uma miragem. As clínicas fecham as portas ou respondem com listas de espera eternas. Quando, em desespero, alguém tenta encontrar um médico que fale uma das línguas nacionais, como o italiano, para evitar a humilhação de ter de ser acompanhado por um tradutor, recebe respostas frias e descartáveis: "Procurem outra clínica."
Na Suíça, um país com quatro línguas oficiais, procurar um médico que fale italiano deveria ser tão legítimo como procurar um médico que fale alemão. Mas na prática, o sistema mostra-se cego à diversidade linguística e às necessidades humanas.
E assim, a obrigação legal de ter um médico de família transforma-se, para muitos, numa cruz pesada, que não assegura nem proximidade, nem compreensão, nem sequer humanidade.
Uma obrigação que, afinal, não serve quem deveria servir: o doente.
autor: Quelhas
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