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quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Estacionamento na Nova Bülach – Entre a Multa e o Direito ao Espaço

Estacionamento na Nova Bülach – Entre a Multa e o Direito ao Espaço



BÜLACH, SUÍÇA – REPORTAGEM DA REVISTA REPÓRTER X

Na vibrante Nova Bülach, entre os bairros de Im-Guss e Glasi, vive-se um paradoxo urbano que se torna cada vez mais visível e criticável: estacionar pode significar liberdade ou uma multa.

Num cenário marcado pela diversidade cultural e pela energia social, com creches, escolas de música, lojas, cafés, ateliers, barbeiros e o inevitável supermercado Coop, o dia-a-dia pulsa ao ritmo de quem vive, trabalha e visita este espaço. Contudo, a lógica do estacionamento revela-se um entrave à convivência e um reflexo de uma gestão fria e inflexível do território.

Ao lado da Schaffhauserstrasse 106 e 108, há uma placa afixada com toda a pompa legal. A sinalização indica, em letras bem visíveis, a palavra “PRIVAT”, acompanhada de dois símbolos de proibição: o de circular e o de estacionar. Com base numa ordem de 20 de Agosto de 2019, a entrada de viaturas não autorizadas pode resultar em multas de até 2 000 francos, com o respaldo da própria autoridade municipal de Bülach, o Stadtrat. A linguagem jurídica é clara e ameaçadora, apesar de não se saber com certeza se o terreno pertence à cidade, à Coop ou às empresas instaladas no complexo im Guss.

Esta ambiguidade é precisamente o cerne da crítica. O espaço parece ser semi-público por vocação e privado por imposição. Os moradores e visitantes, ao acederem ao bistrô, à escola de música, ao infantário Lichtpunkt ou às lojas listadas no próprio totem da entrada, acreditam estar num espaço acolhedor e acessível. Porém, ao mínimo descuido, são presenteados com avisos ou coimas sem apelo nem agravo.

A Coop, nome maior ali implantado, tem contribuído para essa contradição. Apesar de gerar movimento e lucro com os habitantes da região ao longo da semana, fecha as portas ao domingo e recusa ceder o seu estacionamento, mesmo que o espaço fique visivelmente vazio. Uma decisão que, aos olhos da comunidade, se traduz em indiferença e falta de sensibilidade social.

É legítimo questionar: se os parques pertencem à Coop, por que razão não abrem ao fim-de-semana, como forma de retribuir àqueles que durante os dias úteis garantem os lucros da empresa? Se os parques pertencem ao município, por que razão se privatiza e ameaça quem apenas procura visitar um familiar, apoiar um pequeno negócio local ou partilhar um café ao sol?

Este modelo de urbanismo fechado, blindado por placas e multas, contraria o espírito de um bairro vivo e comunitário. Em vez de promover o encontro e a partilha, promove o medo de parar, o receio de ser penalizado, e a crescente desconfiança entre cidadão e cidade.

A Revista Repórter X deixa o alerta: há que repensar o uso do espaço, sobretudo nos domingos, dias de visita e convívio. Liberdade de estacionamento não é desordem, é acolhimento. E um parque aberto ao povo não é prejuízo, é investimento na coesão e na memória de uma cidade que se quer plural e justa.

Porque uma cidade que multa quem a visita, está a multar-se a si mesma.

autor: Quelhas

Revista Repórter X – Editora Schweiz Oficial



Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial

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