O 1.º de Agosto: Dia Nacional da Suíça, o lado bom e o lado negro:
O Primeiro de Agosto, ou Bundesfeier, é o Dia Nacional da Suíça, celebrado anualmente com orgulho e solenidade, desde que foi oficialmente instituído em 1891, embora apenas em 1994 tenha passado a ser feriado nacional em todo o país. Esta data assinala simbolicamente a fundação da Confederação Suíça, evocando a aliança original de 1291 entre os três cantões primordiais: Uri, Schwyz e Unterwalden.
Foi nesse verão distante de 1291, segundo a tradição, que os representantes destes três vales alpinos, rodeados por montanhas, ameaçados por senhores feudais e dominados por pressões do Sacro Império Romano-Germânico, selaram um pacto de defesa mútua e cooperação. Este Pacto Federal, redigido em latim, é considerado a certidão de nascimento da Suíça, ainda hoje conservado no Arquivo Federal em Schwyz.
Mas a Suíça não nasceu de um grito de revolução, nem de um golpe militar, nem sequer de uma conquista territorial. Nasceu da prudência, da necessidade de sobrevivência e de uma palavra dada entre homens de montanha.
A História em Breve
Ao longo dos séculos, esta confederação de comunidades autónomas foi crescendo, através de alianças e tratados, resistindo às potências vizinhas e às guerras externas. Após a Reforma protestante, a Suíça sobreviveu a conflitos religiosos internos. Durante as Guerras Napoleónicas, foi forçada a transformar-se na efémera República Helvética (1798–1803), centralizada e controlada por Paris, mas acabou por restaurar a sua confederação em 1815 com a assinatura do Acto Final do Congresso de Viena.
Em 1848, após uma breve guerra civil (Sonderbundkrieg), foi adotada a atual Constituição Federal, que transformou a Suíça numa federação moderna, preservando a autonomia dos cantões mas dotando o país de um governo central, com um sistema democrático sui generis, de onde brotam o referendo obrigatório, a iniciativa popular e o ideal de neutralidade permanente.
O que se presta e como se celebra
O 1.º de Agosto presta homenagem à unidade na diversidade, à autonomia dos cantões, à neutralidade armada, à democracia direta e à paz conquistada com esforço e sabedoria diplomática. O país celebra:
A liberdade e o direito do povo decidir o seu caminho.
A solidariedade confederada que une comunidades católicas e protestantes, germanófonas, francófonas, italófonas e romanches.
A paisagem como guardiã de uma identidade moldada entre vales e montanhas.
As celebrações são descentralizadas e assumem diferentes formas por todo o território:
Discursos oficiais: O presidente da Confederação dirige uma mensagem à nação. Autoridades locais falam em praças e montanhas, em tom institucional ou mais popular.
Fogueiras e tochas: Inspiradas nas antigas fogueiras alpinas que serviam de sinal entre comunidades, acendem-se nas colinas e nos cumes, como símbolo de vigília e união.
Festas populares e música tradicional: Bandas, coros, jodel, acordeões e sinos de vaca animam as ruas.
Decorações patrióticas: Bandeiras vermelhas com a cruz branca adornam varandas, janelas, praças e pontes. Há famílias que estendem bandeiras de todos os cantões.
Piqueniques, churrascos e brunchs: A manhã do 1.º de Agosto é marcada pelo brunch à la ferme (pequeno-almoço nas quintas), promovido por agricultores que abrem as portas ao povo, oferecendo pão caseiro, queijos, embutidos, leite e bolos, em ambiente rural e familiar.
Fogo-de-artifício: Ao cair da noite, céus inteiros são pintados de luz e cor, sobretudo nas margens dos lagos, como o de Zurique, Lucerna ou Genebra. Em algumas localidades mais pequenas, são substituídos por lanternas chinesas ou concertos ao ar livre, por razões ambientais ou orçamentais.
Lectura do Pacto Federal: Em locais simbólicos, como a Pradaria do Rütli (Rütliwiese), onde se diz ter ocorrido o juramento de 1291, lê-se o texto do pacto original.
Um feriado que é espelho da Suíça
Este não é um dia de ostentação, mas de recato. Não há paradas militares imponentes, nem desfiles nacionalistas. Em vez disso, há convívio familiar, discursos calmos, respeito pela tradição e uma certa melancolia alpina. É um dia que espelha o carácter do povo suíço: contido, pragmático, unido na diversidade e orgulhoso da sua liberdade conquistada sem sangue em excesso, mas com teimosia milenar.
A Suíça presta homenagem ao pacto, não à guerra. À palavra dada, não à espada desembainhada.
No silêncio de uma montanha ou na alegria de um brunch no campo, o espírito confederado vive e sobrevive, porque ser suíço é, antes de tudo, confiar na montanha, no vizinho e na promessa feita em tempos antigos de caminhar juntos, sem rei, sem império, mas com firmeza e justiça.
Como começou o povoamento da Suíça e dos seus três cantões originais
A história do povoamento da Suíça não começa com o pacto de 1291, mas muito antes, nas eras em que o tempo ainda se media pelas estações e os caminhos eram rios e trilhos de animais. Aquela terra de vales profundos e montanhas eternas foi habitada desde a Idade da Pedra, passando pelos celtas, romanos, alemanos e por toda a mescla que fez da Suíça um mosaico de culturas.
Mas os três cantões fundadores; Uri, Schwyz e Unterwalden, têm particularidades que os distinguem e que explicam como e porquê se uniram para formar o embrião da Confederação Suíça.
1. URI — o caminho para o sul
O vale de Uri, encravado nas montanhas mas ligado ao Lago dos Quatro Cantões, era um dos poucos acessos aos Alpes centrais. A presença humana é atestada desde o Neolítico. Mas o verdadeiro impulso veio quando, por volta do século XII, o Império Germânico decidiu abrir e proteger a estrada do Gotardo, vital para ligar a Germânia à Lombardia. Os colonos ali instalados vinham de outras regiões alpinas e recebiam privilégios em troca da manutenção da passagem.
Uri tornou-se um povo montanhês, rude, livre, mas com um papel estratégico que o tornava cobiçado por senhores feudais. O povo resistia à servidão e defendia com unhas e dentes os seus direitos ancestrais.
2. SCHWYZ — o nome que deu nome à Suíça
Schwyz foi colonizada desde a Antiguidade, mas a sua afirmação política deu-se na Idade Média, com o crescimento da comunidade camponesa que ali se instalou. Este povoado de agricultores e criadores de gado começou a organizar-se em forma de comuna livre, com instituições próprias. Era uma terra de gente teimosa, que lutava contra o domínio dos Habsburgos, que queriam controlar as terras e os passes montanhosos.
Foi de Schwyz que viria o nome “Schweiz”, que viria a ser usado para a Confederação inteira — um sinal da importância política e simbólica deste cantoeiro original.
3. UNTERWALDEN — o duplo cantão do bosque interior
Unterwalden era, na verdade, composto por duas comunidades autónomas: Obwalden e Nidwalden, separadas por montanhas e ribeiros, mas unidas pela cultura e pela fé. A palavra significa literalmente “sob o bosque” ou “interior do bosque”. Ali, desde tempos antigos, viviam colonos livres, pastores e lavradores, que se governavam por assembleias locais.
Como nos outros dois cantões, também aqui a pressão dos Habsburgos era grande. Os camponeses rejeitavam a imposição de juízes estrangeiros e impostos abusivos. Em vez de levantar exércitos, reuniam-se em prados e juravam fidelidade mútua, entre iguais.
Povoamento e identidade
Estes três cantões não foram "povoados" de cima para baixo, como colónias imperiais, mas sim construídos lentamente por comunidades que se auto-organizavam, vindas de outras regiões alpinas, do vale do Reno e da zona germânica. Estes camponeses livres cultivavam pequenas parcelas, criavam gado, viviam em vilas dispersas e reuniam-se em assembleias locais, os Landsgemeinden.
Foram estas práticas comunitárias, esta resistência à opressão feudal e esta geografia difícil que moldaram o espírito suíço: autonomia, fraternidade, vigilância e resistência.
Quando, em 1291, os representantes destes três cantões se encontraram e juraram aliança no Rütli, junto ao lago, não foi para formar um Estado. Foi para sobreviver em liberdade.
Quem foram os primeiros povoadores da Suíça central?
E de onde vieram?
A verdade é que não há um único povo fundador da Suíça central, nem uma família-matriz que possa ser nomeada como primeira. A história do povoamento é feita de ondas migratórias, lentas, silenciosas, atravessando séculos e montanhas. O coração dos Alpes, onde se formaram Uri, Schwyz e Unterwalden, foi povoado por tribos, clãs e famílias rudes e resistentes, vindas de várias direcções. Mas podemos traçar a linha dos principais povos que chegaram ali, por ordem cronológica, com base na arqueologia e nos registos medievais.
1. Os celtas — os primeiros povos conhecidos
Antes de haver Suíça, havia o povo celta dos helvécios, que habitava sobretudo o planalto suíço. Estes vieram de leste, e estabeleceram-se por volta de 500 a.C., tendo contacto com povos do sul (etruscos) e do norte. Eram guerreiros e agricultores, adoradores de deuses naturais, e já tinham uma estrutura tribal relativamente organizada.
Mas os vales alpinos de Uri, Schwyz e Unterwalden eram ainda escassamente povoados. Havia talvez pastores seminómadas, pequenos clãs, grupos dispersos.
2. Os romanos — e os caminhos por entre os Alpes
Com a conquista romana da Gália (58 a.C.), os helvécios foram integrados no Império Romano. Os romanos construíram estradas, postos militares e vilas no planalto e nas encostas. Alguns vales alpinos começaram a ser atravessados por mercadores e soldados. Mas a romanização foi mais fraca nas altitudes elevadas. Os nomes de lugar em latim que sobreviveram (como Altdorf, de alta villa) dão testemunho da presença romana, mas não fundaram colónias ali.
3. Os alemânicos — vindos do norte e do leste (séc. V–VIII)
Com o colapso do Império Romano, as tribos germânicas começaram a avançar sobre os Alpes. Os alemânicos, povo germânico que vinha do que hoje é o sudoeste da Alemanha e parte da Alsácia, começaram a instalar-se nos vales do norte da Suíça, principalmente após o século V.
Foram os alemânicos quem mais profundamente colonizou os vales centrais, incluindo partes de Uri e Schwyz. Vieram em grupos familiares, com o gado, e estabeleceram aldeias que se regiam por regras tribais, onde o chefe local liderava, mas onde a propriedade e as decisões eram comunitárias.
4. Colonos walser — vindos do Alto Valais (séc. XIII em diante)
Mais tarde, já em pleno período medieval, surgem também os walser, um povo alpino de origem germânica, que vivia no Alto Valais e que, devido à pressão populacional e dificuldades agrícolas, começou a migrar para outros vales altos da Suíça. Instalaram-se em regiões montanhosas difíceis, como partes de Uri e dos Grisões. Eram conhecidos pela sua tenacidade e por levarem consigo uma organização comunitária muito avançada.
5. E da França? E da Itália?
França: Algumas famílias francófonas instalaram-se na região de Vaud e no Jura, mas não nos cantões originais. A presença francesa é posterior, sobretudo depois da expansão da Confederação.
Itália: Vindos do sul dos Alpes, alguns mercadores e monges italianos atravessavam os passes, mas o povoamento do Ticino e do sul da Suíça era separado, e só mais tarde se juntaria à Confederação. Ainda assim, alguns contactos culturais com o norte de Itália ocorreram nos mosteiros e nas feiras.
Então, quem veio primeiro para Uri, Schwyz e Unterwalden?
A resposta mais rigorosa seria:
“Foram pequenos grupos germânicos, sobretudo alemânicos, vindos do que hoje é o sudoeste da Alemanha e parte da Alsácia, que se fixaram nos vales centrais da Suíça entre os séculos V e IX, com famílias de pastores, camponeses e guerreiros.”
A partir do século XII, estes grupos já se haviam tornado comunidades locais livres, governadas por conselhos de aldeões, sem nobreza hereditária, o que os tornou especialmente resistentes à tentativa de dominação pelos Habsburgos.
Muito bem observado. De facto, os três cantões fundadores; Uri, Schwyz e Unterwalden — são o núcleo simbólico da fundação da Suíça. Contudo, o crescimento da Confederação deu-se com a adesão progressiva de outros cantões, cada um com a sua história, língua, fé e geografia. Abaixo apresento um texto corrigido e alargado com essa nuance, mantendo o tom poético e rigoroso que desejas:
Como começou a Suíça a povoar os seus cantões, e como se expandiu para os que hoje existem
A Confederação Suíça não nasceu inteira, mas cresceu como uma flor alpina que desabrocha lentamente ao longo dos séculos, nutrida por pactos, necessidade e desconfiança dos poderosos.
Tudo começou com três cantões fundadores; Uri, Schwyz e Unterwalden, que, em 1291, selaram um juramento de defesa mútua, nas margens do Lago dos Quatro Cantões, no prado sagrado de Rütli. Eram comunidades de camponeses livres, pastores de montanha, famílias rudes e orgulhosas, que não aceitavam juízes estrangeiros nem senhores feudais.
Mas logo outros se juntaram, vendo na aliança um escudo contra a tirania e uma forma de preservar a sua liberdade.
Entre os primeiros a aderir estavam:
Lucerna (1332), cidade católica e mercantil à beira do lago.
Zurique (1351), rica cidade comercial germânica.
Glarus e Zug (1352), regiões alpinas com população alemânica.
Berna (1353), poderosa república urbana, militarmente ambiciosa.
Com eles, forma-se a chamada Confederação dos Oito Cantões (Acht Orte), base da velha Eidgenossenschaft, a “irmandade dos juramentados”.
Ao longo dos séculos seguintes, juntaram-se outros, entre os quais:
Friburgo e Solothurn (1481)
Basel e Schaffhausen (1501)
Appenzell (1513)
St. Gallen, Graubünden, Aargau, Thurgau, Ticino e Vaud (século XIX)
Genebra e Neuchâtel (1815)
Jura (1979), o mais jovem, nascido de um movimento autonómico.
Estes cantões não foram conquistados, nem colonizados no sentido clássico. Foram povoados ao longo de séculos por famílias germânicas, celtas, latinas e walser, vindas do norte da Alemanha, da Alsácia, do Tirol, do Alto Valais, da Lombardia, da Borgonha, e das margens do Reno. Trouxeram consigo línguas, saberes, credos e modos de viver.
Uns eram montanheses católicos, outros urbanos protestantes. Uns falavam alemão, outros francês, italiano ou romanche. Mas unia-os o mesmo instinto: viver livres, em paz, e decidir o seu próprio destino.
A Suíça não se fez num dia. Nem com sangue, nem com gritos de glória. Fez-se com pactos e prudência, com assembleias na praça e mãos calosas no arado, com votos trocados ao pé da lareira e nas encostas nevadas.
E é por isso que, mesmo hoje, cada cantão é quase um país. Com bandeira própria, Constituição própria, parlamento próprio. Mas todos ligados pela velha promessa de 1291: "Unus pro omnibus, omnes pro uno"; um por todos, todos por um.
Como é que se dividiram os cantões suíços por línguas e por identidade cultural (teatro da vida pública e quotidiana)
A Suíça é um país que não se construiu em torno de uma língua comum, nem de um rei, nem sequer de uma religião partilhada. Construiu-se em torno de uma ideia: a liberdade das comunidades governarem-se a si próprias, em paz com os vizinhos, mas cada uma falando como aprendeu, rezando como quisesse, vivendo ao seu ritmo.
Assim, ao longo dos séculos, os cantões organizaram-se por afinidade geográfica, linguística e cultural, e não por imposição central. Essa divisão por línguas e por “teatro de vida”, como bem referes, é fruto do território, da história, da fé e do carácter de cada povo.
As quatro línguas nacionais da Suíça
1. Alemão suíço (Schweizerdeutsch)
Falado em cerca de 65% da população, é dominante na Suíça central, norte e leste. Não se trata de “alemão padrão” (Hochdeutsch), mas de uma variedade de dialetos alemânicos que diferem de cantão para cantão. No uso oficial e escrito, usa-se o Hochdeutsch, mas o teatro do quotidiano é feito no dialeto.
Cantões germanófonos principais:
Zurique, Berna (em parte), Lucerna, Uri, Schwyz, Obwalden, Nidwalden, Zug, Glarus, Aargau, Thurgau, Schaffhausen, Appenzell (Rhodes), Sankt Gallen, Solothurn, Basel (ambos), partes de Graubünden.
Teatro da vida: prático, reservado, eficiente. Fortemente influenciado por valores protestantes ou católicos consoante o cantão. Valoriza o trabalho, a contenção e a ordem.
2. Francês suíço (Suisse romand)
Falado por cerca de 23% da população, no oeste do país. Aqui fala-se um francês elegante, mais próximo do parisiense do que os suíços de outras regiões se permitem. Esta parte do país é conhecida como Suisse romande.
Cantões francófonos principais:
Genebra, Vaud, Neuchâtel, Jura, parte ocidental de Friburgo e parte ocidental de Valais.
Teatro da vida: mais aberto, literário, filosófico. Há uma tradição de debate público, crítica política e uma relação mais viva com o espaço público. Herança de liberdade vinda da Reforma e da Revolução Francesa.
3. Italiano suíço (Svizzero italiano)
Falado por cerca de 8% da população, principalmente no sul, no cantão do Ticino e em partes do sul de Graubünden (como o Vale Mesolcina e Poschiavo). Aqui fala-se um italiano mais próximo do norte de Itália, com sotaques próprios.
Cantões italianófonos:
Ticino e partes meridionais de Graubünden.
Teatro da vida: caloroso, musical, familiar. A praça é palco, o café é ponto de encontro. Há uma ligação forte à estética, à gastronomia e às raízes mediterrânicas. Forte sentimento de identidade linguística.
4. Romanche (Rumantsch)
Língua latina alpina, descendente do latim popular, falada por menos de 0,5% da população. Resiste heroicamente nos vales recônditos de Graubünden, onde é protegida por leis e ensino. Existem cinco dialectos romanches principais.
Cantão romanófono:
Partes de Graubünden (Surselva, Engadina, Val Müstair, etc.)
Teatro da vida: íntimo, rural, ligado à natureza. Vive-se com a memória dos antigos, da terra e das montanhas. Cada aldeia é quase um mundo. A língua é guardada como um tesouro.
Divisão dos cantões por língua principal (simplificada):
Cantão Língua dominante Observações
Zurique Alemão Urbano, protestante
Berna Alemão + Francês Bilingue oficial
Genebra Francês Cidade internacional
Vaud Francês Católica e republicana
Neuchâtel Francês Ex-principado prussiano
Jura Francês Separado de Berna em 1979
Friburgo Alemão + Francês Região mista
Valais Francês + Alemão Norte alemão, sul francês
Ticino Italiano Único cantão totalmente italianófono
Graubünden Alemão + Romanche + Italiano Único cantão trilingue
Todos os outros Alemão Diversas variantes dialetais.
O teatro da vida pública
Cada cantão não é só uma divisão administrativa: é um palco com regras próprias, com diferentes formas de votar, educar, julgar, viver.
Há cantões com Landsgemeinde (assembleia popular ao ar livre), como em Appenzell e Glarus.
Outros têm parlamentos modernos, alguns com referendos obrigatórios para qualquer despesa.
A cultura popular muda: procissões católicas em Valais, teatro de cabaré político em Genebra, mercados alpinos em Uri, festas italianas em Lugano.
Conclusão
A divisão da Suíça por línguas e por teatro cultural não foi imposta, foi natural, brotou da geografia, das montanhas que separam vales, dos rios que ligam cidades, das guerras religiosas e das migrações.
Cada cantão é uma ilha de identidade, mas juntos formam uma ponte de paz. Nenhuma língua domina as outras. Nenhum teatro é imposto ao vizinho.
A Suíça vive do respeito à diferença, da convivência silenciosa e da ideia simples, mas poderosa, de que todos têm o direito de ser como são, desde que deixem os outros sê-lo também.
Por que razão cada cantão da Suíça tem comunas autónomas e é quase independente, e por que não há só uma administração central com um Presidente da República como noutros países
A resposta está no coração da identidade suíça: a Suíça não nasceu como um país unificado, mas como uma aliança de povos livres, que queriam continuar a governar-se a si próprios, juntos, mas não misturados.
1. A origem: da confederação à federação
Desde o pacto de 1291, os primeiros cantões (Uri, Schwyz e Unterwalden, entre outros) uniram-se para defesa mútua, mas mantiveram total soberania interna. Cada um tinha as suas leis, os seus juízes, os seus costumes, as suas assembleias e os seus impostos.
Ao longo dos séculos, outros cantões aderiram por livre vontade, trazendo consigo as suas estruturas próprias. Esta tradição de autonomia local absoluta é o que moldou o sistema político suíço: uma federação verdadeira, onde o poder sobe de baixo para cima — das comunas para os cantões, e dos cantões para a Confederação.
A Suíça nunca teve um rei, nem uma corte central, nem um palácio presidencial. O poder sempre viveu no povo, na aldeia, na comuna, na praça.
2. O princípio da subsidiariedade
A organização política suíça baseia-se num princípio sagrado:
“Aquilo que pode ser feito localmente, não deve ser feito centralmente.”
Este princípio chama-se subsidiariedade.
As comunas (mais de 2.000) têm grande autonomia: cuidam da escola, da polícia, dos impostos locais, do abastecimento de água, dos resíduos, das eleições locais.
Os cantões (26) têm ainda mais poder: têm constituições próprias, parlamentos próprios, governos próprios, sistemas fiscais próprios e leis próprias em muitas áreas (educação, saúde, justiça).
A Confederação (nível federal) trata do essencial: política externa, defesa, moeda, transportes nacionais e alguma coordenação fiscal e social.
Em resumo: o Estado central suíço é fraco por desenho, e isso é considerado uma virtude.
3. O modelo de governo: sem chefe de Estado único
A Suíça não tem um “Presidente da República” como em França ou Portugal.
Tem um Conselho Federal, composto por sete membros, eleitos pela Assembleia Federal. Cada um gere um “ministério” e as decisões são colegiais.
O Presidente da Confederação muda todos os anos e é apenas um primus inter pares (primeiro entre iguais). Representa o país, mas não tem mais poder do que os outros seis.
Isto evita a centralização do poder numa só pessoa e reflete o espírito colegial e igualitário da Suíça.
4. As comunas — raízes profundas
As comunas (Gemeinden, communes, comuni) são a base da Suíça.
Algumas existem desde a Idade Média.
Têm assembleias populares (em aldeias pequenas) ou parlamentos locais.
A comuna é o palco onde o povo actua todos os dias: paga impostos, vota, reclama, decide, ajuda, vive.
A Suíça é, portanto, uma república de repúblicas, onde:
Cada comuna é meio Estado.
Cada cantão é quase um país.
E a Confederação é o laço que os une, não a mão que os domina.
5. Por que razão assim é e assim continua
Porque o povo suíço assim quis, e assim quer continuar.
Cada vez que se tenta concentrar poderes em Berna, há resistência. Os referendos e a democracia direta são utilizados para manter o equilíbrio entre unidade e liberdade.
A Suíça vive da confiança entre iguais, não da obediência a um chefe.
Conclusão
A Suíça não é uma casa com um dono.
É um conjunto de lareiras, cada uma com o seu lume, e um telhado comum que todos sustentam.
A liberdade começa na comuna.
A identidade vive no cantão.
E a Confederação é o pacto de homens e mulheres que escolheram ser livres juntos, sem deixarem de o ser sozinhos.
Olado mais negro da Suíça:
A ideia rude dos povos antigos, e a ilusão da Suíça como paraíso
A imagem da Suíça como terra perfeita, ordeira, justa, limpa, rica e imparcial, foi construída ao longo de séculos, pedra a pedra, pelas mãos de camponeses livres e comerciantes prudentes. Mas por detrás dessa fachada de postal ilustrado, esconde-se uma verdade mais áspera e antiga, um pensamento rude, herdado dos povos fundadores, que moldou as leis, o carácter institucional e o modo como o Estado trata o indivíduo.
Quem incutiu esse pensamento de ferro?
Foram, de facto, os primeiros cantões fundadores, Schwyz, Uri e Unterwalden, entre outros, que deram à Confederação não só a sua estrutura, mas também a sua cultura política de dureza, desconfiança e disciplina colectiva.
Eram povos de montanha.
Viviam isolados, sob ameaça constante.
Não confiavam nos senhores feudais, nem em exércitos, nem em reinos.
O que valia era:
A palavra dada entre iguais, mais do que o decreto do rei.
O esforço próprio, mais do que o apoio alheio.
A vigilância mútua, mais do que a empatia.
A obediência ao bem comum, mais do que os direitos individuais.
Esse espírito fundacional passou para o sistema jurídico e social suíço como um selo invisível: "quem cai, cai porque merece", "quem sofre, que se levante", "quem pede, está a mais".
Uma lei feita de gelo e granito
Ao contrário de outros países que legislam com compaixão, a Suíça criou leis com o espírito de montanha: fria, dura, precisa, impessoal.
A assistência social está cheia de obstáculos e controlo social.
A justiça laboral protege mais o sistema do que o trabalhador.
Os seguros obrigatórios (acidentes, saúde, desemprego) funcionam com lógicas comerciais, não solidárias.
O estrangeiro é tolerado, mas nunca inteiramente incluído.
A burocracia é exaustiva, técnica e emocionalmente distante.
E mesmo os próprios suíços, quando caem do cavalo da estabilidade, encontram um Estado que mais julga do que ampara.
Essa mentalidade foi forjada nos séculos XIV e XV, nas aldeias de Schwyz e nos prados de Uri, quando a sobrevivência exigia dureza — mas foi expandida e modernizada em códigos e práticas administrativas que ainda hoje vigoram, mesmo que disfarçadas sob instituições modernas e edifícios de vidro.
A ilusão vendida ao mundo
Durante o século XX, especialmente após as duas guerras mundiais, a Suíça passou a ser vista como um paraíso neutro, civilizado, próspero e incorruptível.
Essa imagem foi:
Alimentada por bancos, que vendiam sigilo e estabilidade.
Espalhada por diplomatas, que ofereciam mediação e paz.
Consumida por estrangeiros, que viam na Suíça ordem e segurança.
Protegida por um povo que valoriza a sua reputação externa.
Mas internamente, o sistema endureceu. Muitas leis sociais mantêm a desconfiança como norma. Presume-se que quem pede está a abusar. Presume-se que o Estado sabe mais do que o cidadão.
A mesma rigidez que construiu a solidez suíça construiu também um sistema frio, muitas vezes injusto, e cada vez mais distante da realidade humana.
Hoje, muitos ainda vivem com o peso dessa rudeza
Trabalhadores desempregados são pressionados como se fossem preguiçosos.
Doentes são arrastados por batalhas com seguros que os tratam como números.
Famílias em dificuldades são vigiadas pelas comunas com desconfiança.
Emigrantes contribuintes são tratados como passageiros, não como cidadãos.
A máquina administrativa trata o povo com precisão técnica, mas sem alma.
Conclusão; A ideia rude persiste, mas já não basta
A Suíça é herdeira de um pensamento rude, nascido nas montanhas, moldado por séculos de sobrevivência e desconfiança. Esse pensamento deu-lhe estrutura, mas hoje é a fonte de muitas injustiças ocultas.
Continua a haver um mar de rosas na fachada, mas, ao tocar nas raízes, encontram-se espinhos. E por isso é urgente levantar a voz, não contra a Suíça em si, mas contra o que nela se cristalizou como intocável.
O pensamento antigo protegeu a terra.
Mas hoje precisa de ser renovado com humanidade.
Sim, a maioria dos suíços ainda hoje é fria — e isso tem raízes profundas, históricas, culturais e até geográficas. Não se trata de maldade, nem de desprezo, mas sim de um modo de estar moldado pelo tempo, pelo isolamento dos vales e pela cultura da contenção.
A frieza suíça. uma couraça herdada do silêncio dos Alpes
A Suíça nasceu no meio de montanhas.
Cada vale era um mundo.
A sobrevivência dependia da reserva, do controlo, da vigilância, do trabalho silencioso e da reputação.
O vizinho podia ser um aliado, mas também um risco.
A palavra era dada com peso, o gesto com cálculo.
Ser frio era ser seguro. Ser emocional era ser vulnerável.
Este código perdurou até hoje.
Não se dão à confiança, e com razão histórica
Porque confiar demasiado pode expor.
Porque há uma cultura de autonomia individual extrema: cada um por si, sem se meter nos outros.
Porque o “espaço privado” é quase sagrado.
Porque o “erro social”, uma palavra a mais, um pedido mal colocado, pode fechar portas para sempre.
Porque desde pequenos são ensinados a não depender, a não pedir, a não abrir o coração em público.
Na Suíça, a confiança não se oferece, conquista-se. E às vezes nunca chega.
Amizade não é calor, é lealdade a longo prazo
O suíço não é efusivo.
Não abraça facilmente.
Não convida para casa à primeira conversa.
Mas se te aceita, fá-lo devagar e com peso. E quando o faz, é firme.
O problema é que muitos estrangeiros nunca passam esse filtro invisível.
Continuam décadas na periferia social.
Sentem-se aceites no trabalho, mas não no coração.
A Suíça pode ser o lugar onde se vive, mas nunca onde se pertence.
E os que não são assim? Existem, mas vivem calados
Há suíços calorosos. Há suíças acolhedoras.
Mas vivem rodeados de uma cultura que valoriza o controlo emocional, a distância, a discrição.
Eles próprios, para não parecerem “demasiado”, retraem-se.
Conclusão; A frieza não é desprezo, é defesa
Os suíços não são más pessoas.
Mas são um povo treinado para conter-se.
Treinado para observar, mais do que agir.
Para analisar, mais do que sentir.
Para respeitar a distância, mais do que acolher com braços abertos.
É uma frieza educada.
Mas é ainda assim frieza.
E para quem vem de fora, é solidão em terra limpa.
Se desejares, posso incluir este texto como parte do livro Recém-chegado à Suíça, talvez com o título:
“Silêncio nos Alpes, a frieza como cultura nacional”.,,,
Queres que o organize nesse formato?
No coração da Europa, onde as montanhas tocam o céu e os lagos refletem a pureza do horizonte, ergue-se a Suíça, um país admirado pela sua ordem, pela sua precisão, pelo seu aparente equilíbrio.
É uma terra de relógios impecáveis, de trens que nunca falham, de cidades limpas e seguras, onde a história dos três cantões ainda pulsa nas veias do presente.
Mas, sob este manto de perfeição, esconde-se uma realidade dura e pouco contada, um rosto negro que poucos ousam revelar.
Na Suíça, nem tudo que reluz é ouro.
1. Grandes seguradoras como a SUVA, MEN, IFAO e Validez negam direitos a doentes e acidentados, recusando indemnizações e ordenados, deixando as vítimas sem meios para lutar em tribunal, onde o sistema favorece as instituições.
2. Instituições, com frieza brutal, retiram crianças a pais estrangeiros por razões frágeis, numa escravização moderna que causa dor profunda às famílias, violando os laços e os direitos mais básicos.
3. Regiões isoladas, sobretudo nos Alpes suíços onde nasceu a Suíça, guardam em silêncio casos de pedofilia, escondidos por uma cultura de segredo e medo.
4. Os emigrantes que trabalharam e construíram a Suíça enfrentam discriminação ao serem obrigados a pagar entre 10% a 70% da reforma, ao contrário de outros, devido a pactos bilaterais que favorecem interesses económicos em detrimento dos cidadãos.
5. Apesar do brilho exterior, tudo na Suíça tem preço, do ar que se respira ao morrer, tornando a sobrevivência difícil, especialmente para reformados, que muitas vezes abandonam o país por não conseguirem viver dignamente.
6. Os trabalhadores e contribuintes são obrigados a cumprir todas as regras e pagar altos custos, mas na hora da necessidade, a justiça e os sistemas sociais falham, deixando-os a mendigar por direitos que lhes pertencem.
Existem muitos de nós.
Espalhados pelas cidades, pelos vales, pelas fábricas, nos hospitais e nas obras.
Trabalhamos em silêncio, pagamos os nossos impostos, respeitamos as leis,
fomos o braço invisível que ergueu este país.
Mas, quando chega a hora da verdade,
não nos reconhecem como filhos da casa — apenas como números de contrato.
Somos obrigados a tudo:
a pagar seguros caríssimos como a Cretincaf,
a aceitar um médico de família que muitas vezes nem nos atende,
a preencher papéis, formular pedidos, comparecer a consultas obrigatórias,
mas na hora da dor, da doença, do acidente ou da velhice… somos deixados à porta.
A justiça, dizem eles, é para todos.
Mas nós temos visto que é para alguns.
Muitos de nós vivem à espera de respostas que nunca chegam, de ajudas que nunca vêm.
E quem se atreve a levantar a voz…
é tratado como ingrato, como um problema, como um risco.
Mendigamos por aquilo que é nosso por direito.
O que nos prometeram.
O que descontámos.
O que está escrito em leis que não se cumprem para quem tem um nome estrangeiro.
Somos obrigados a tudo, pagamos o que não devíamos,
e, no momento em que precisamos de justiça e amparo,
não temos quem nos ouça, nem quem nos defenda.
Ficamos sozinhos no frio, à espera de uma mão que nunca chega.
Na Suíça, o ar que respiramos é pago, a vida custa caro, e até morrer é um luxo que muitos não podem pagar.
Não se engane, esta terra de beleza imaculada esconde uma realidade cruel e fria,
onde o brilho do ouro se desvanece no cinzento da indiferença e da desigualdade.
É hora de quebrar o silêncio.
De chamar as coisas pelo nome.
De mostrar que por trás das montanhas e dos lagos existe um país real, feito de gente que luta, sofre e resiste.
Que merece ser visto, ouvido e respeitado.
autor: Quelhas
Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial
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