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quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Suíça, o teatro do controlo: a máquina da RAV que pune, vigia e silencia os desempregados

Suíça, o teatro do controlo: a máquina da RAV que pune, vigia e silencia os desempregados


Na Suíça, onde o relógio governa a vida e a pontualidade é virtude nacional, esconde-se um mecanismo implacável de controlo estatal: a RAV – Regionales Arbeitsvermittlungszentrum, o centro de desemprego que, ao invés de proteger, vigia, manipula e castiga.

O caso que hoje trazemos à luz é apenas mais um reflexo de um sistema que trata os desempregados como súbditos, e não como cidadãos com direitos. Uma engrenagem burocrática que, sob o pretexto da eficiência, obriga, exige, ameaça, e pune, como se estivéssemos sob tutela, como se fôssemos crianças mal-comportadas sob vigilância permanente de um Estado-Pai disciplinador.

Um trabalhador temporário numa gráfica vive esta realidade na pele. Sem contrato escrito, como é habitual no sector, trabalha quando o chamam, pára quando há pausa. Não sabe quando volta, nem a gráfica sabe. Mas isso, para a RAV, pouco importa.

Querem saber que dias ele trabalhará nas próximas semanas, como se o trabalho temporário fosse um plano traçado ao minuto. Como se a incerteza não fosse parte do próprio nome: temporário.

E se ousar fazer uma pausa, tirar férias como qualquer cidadão? Multa. Suspensão. Redução. A RAV transforma o descanso num castigo, exige marcações, impõe cursos no pico do Verão, empurra o trabalhador para actividades obrigatórias com um só fim: evitar o pagamento do fundo de desemprego a que muitos têm direito por dois anos.

Não arranjam trabalho, mas pressionam para que o trabalhador arranje por si. Não lhes interessa se estás doente, se tens consulta, se tens burnout ou cirurgia marcada. O que importa é manter o número baixo de subsídios pagos.

E quando, como neste caso, o temporário regressa ao posto de sempre, mesmo sem contrato, a RAV insiste em chamar-lhe "novo ciclo", exigindo novos papéis, novos currículos, novos relatórios. Fingem que tudo recomeça, para evitar assumir a continuidade.

Ao mesmo tempo, enviam convocações obrigatórias como esta:

"Einladung zum persönlichen Beratungsgespräch – 4. August 2025, 16:00 Uhr. [...] Dieses Gespräch ist gemäss Arbeitslosenversicherungsgesetz obligatorisch."

Se não fores, és penalizado. Se estás doente, tens de provar. Se falhares um prazo, és punido. E se fores de férias, não recebes o ordenado do fundo, mesmo tendo trabalhado antes.

Este é o retrato de uma Suíça que muitos desconhecem. Um país de direitos no papel, mas de controlo obsessivo na prática, onde o trabalhador precário é olhado com desconfiança, e tratado como potencial burlão, não como ser humano.

A pergunta impõe-se: que justiça é esta, que pede papéis a quem já vive do esforço, e silêncio a quem clama por dignidade?

A máquina continua a girar, impávida. Mas aqui, nesta página, a voz do trabalhador anónimo — como a de tantos outros — não será abafada.

autor: quelhas
revista repórter X


Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial

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